terça-feira, 19 de outubro de 2010

STF aprova pesquisas com células-tronco

Seis ministros do STF votaram a favor das pesquisas com células-tronco embrionárias. Outros cinco sugeriram mudanças na Lei de Biossegurança. Cadeirantes e cientistas comemoraram a decisão ainda do lado de fora do prédio do Surpremo

30 Mai 2008
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou ontem, em Brasília, as pesquisas com células-tronco embrionárias no País. O Supremo rejeitou uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) contra o artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a utilização, em laboratório, dessas células fertilizadas in vitro e sem terem sido utilizadas. Seis ministros do tribunal votaram a favor das pesquisas. Outros cinco sugeriram mudanças na lei.

Anteriormente, o voto do ministro Cezar Peluso havia sido contabilizado pelo Supremo como favorável à restrições às pesquisas. Mas, a informação foi retificada e o ministro classificado no grupo dos que julgaram pela liberação, sem restrições. A Adin foi proposta em 2005 pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que defende que o embrião pode ser considerado vida humana.

O STF não chegou a proibir as pesquisas com células-tronco embrionárias. Mas muitos pesquisadores ficaram receosos em continuar com os estudos, em razão do impasse jurídico. As células-tronco embrionárias são consideradas esperança de cura para algumas das doenças mais mortais, porque podem se converter em praticamente todos os tecidos do corpo humano. Entretanto, o método de sua obtenção é polêmico, porque a maioria das técnicas implementadas nessa área exigem o sacrifício do embrião. Os ministros Carlos Ayres Britto, Ellen Gracie, Cármen Lúcia Antunes Rocha, Joaquim Barbosa, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello votaram a favor desses estudos, mediante o que determina a lei.

De acordo com a norma, podem ser utilizados apenas os embriões usados congelados há três anos ou mais, mediante autorização do casal. O artigo veta a comercialização do material biológico. "Para pesquisa esses embriões são viáveis, mas não para a fecundação. Eles não serão introduzidos em corpo feminino. É embrião que conserva a potência para se diferenciar em outros tecidos, inclusive neurônios, o que nenhuma outra célula adulta parece deter" - afirmou o ministro Ayres Britto, relator da ação, no início do julgamento, em 5 de março.

Já os ministros Ricardo Lewandowski, Carlos Alberto Menezes Direito, Cezar Peluzo, Eros Grau e Gilmar Mendes pediram diferentes tipos de modificação na Lei de Biossegurança. "O embrião é, desde a fecundação, mais presentemente, desde a união dos núcleos do óvulo e do espermatozóide, um indivíduo, um representante da espécie humana, que terá a mesma carga genética de um feto, de uma criança, de um adulto, de um velho" - afirmou Direito.

A comemoração tomou conta do saguão do STF e da área defronte. Dez cadeirantes, todos sorrindo, juntaram-se a amigos e cientistas num abraço. Nesse momento, faltava apenas um voto a ser lido, o que deu segurança aos militantes.

Falando para um grupo de colegiais, Matheus Sathler, 24, que se apresentou como advogado da frente parlamentar evangélica e bateu boca com cadeirantes, disse que o resultado era um atraso: "Não se discute mais célula-tronco embrionária no mundo" - disse. (da Folhapress)


E-Mais

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota lamentando a aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias. Segundo a nota, a decisão do STF revela uma grande divergência sobre o assunto, o que mostra que alguns ministros têm a mesma posição do CNBB. "Não se trata de uma questão religiosa, mas de promoção e defesa da vida humana em qualquer circunstância", afirma a nota.

Ainda de acordo com a nota, o embrião é uma vida humano e tem direito a proteção do Estado. E a circunstância de estar in vitro ou no útero materno não diminui e nem aumenta esse direito. "É lamentável que o STF não tenha confirmado esse direito cristalino, permitindo que vidas humanas em estado embrionário sejam ceifadas". A CNBB afirma também que continuará seu trabalho em favor da vida, desde a concepção até a morte.

Células tronco contra a cegueira

Comprovada a eficácia do transplante de células-tronco para o tratamento de cegueira provocada por queimadura química ou por calor.

Sabe aquelas fotos de aparelhos de ginástica e fórmulas de dietas do tipo antes e depois? Pois a imagem acima mostra o resultado do tratamento com células-tronco no mesmo estilo. Antes e até cerca de seis anos depois. E é impressionante a evolução do estado dos olhos dos pacientes submetidos à terapia.

Pesquisadores da Universidade de Modena, na Itália, implantaram as células-tronco em 112 pessoas que tinham o olhos queimado e conseguiram recuperar totalmente a visão de 82 (76,6,%) deles (tiveram a visão restaura a um nível superior a 0,9, onde 1 é a visão perfeita). Mesmo nos outros 14 (13,1%) a visão foi parcialmente restabelecida.

O processo consiste em cultivar células-tronco do próprio paciente e as inserir entre a córnea e a esclera (parte opaca do olho) na região denominada limbo. A técnica já vem sendo empregada a mais de dez anos.



Depois das células enxertadas, a maior parte dos pacientes da Itália teve esperar entre 12 e 24 meses e passar por cirurgias na córnea para recuperá-la.

A maioria dos pacientes tratados tinha apenas um olho lesionado, o que possibilitou que as células pudessem ser retiradas do olho preservado. Nos casos em que ambos os olhos foram danificados por queimaduras, as células foram retiradas de uma parte não afetada do limbo



O pesquisadores se valiam do fato de que o limbo é uma fonte natural de células-tronco para a recuperação diária da córnea. Ocorre que, em caso de queimaduras, elas costumam se extinguirem, o que impossibilita a autorregeneração ocular, levando à cegueira parcial ou total.

Eles estavam extremamente felizes. Alguns diziam que era um milagre. Não foi um milagre. Foi simplesmente uma técnica.
Graziella Pellegrini. Um dos líderes da pesquisa do Centro de Medicina Regenerativa da Universidade de Modena


Nada de rejeição, tumores, ou cabelos nascendo no coração. É simplesmente emocionante a evolução desse forma de tratamento. Especialmente para os que possuem o problema.

Mas há de se ressaltar que é necessário haver células-tronco no limbo para se usar a técnica. Se a queimadura for extinguí-las em ambos os olhos não há como o procedimento ser conduzido.

A chave é saber se você pode encontrar uma população de células-tronco boa e expandi-la.
Dra. Sophie Deng. Especialista em córnea do Instituto de Olhos Jules Stein da UCLA
Dr. Sophie Deng, especialista em córnea da UCLA, disse que a maior vantagem da técnica dos médicos italiano é que eles foram capazes de expandir o número de células estaminais em laboratório. Esta técnica é menos invasiva do que tomar uma grande amostra de tecido do olho e reduz a chance de uma lesão ocular.

O estudo, feito com pacientes que passaram pelo procedimento entre 1998 e 2007, foi publicada no periódico "The New England Journal of Medicine".

Fonte: G1, CBS News

Cientistas criam células hepáticas a partir da pele

 

Estudo com células-tronco pluripotentes abre caminho para novos tratamento de doenças do fígado



Foto: Reuters
Células hepáticas doentes, como na foto, podem ser substituídas por células reprogramadas
Cientistas criaram pela primeira vez células hepáticas humanas a partir de células cutâneas reprogramadas, abrindo caminho para o possível desenvolvimento de novos tratamentos para doenças do fígado, que matam milhares de pessoas por ano.
Cientistas da Universidade de Cambridge divulgaram os resultados na quarta-feira na revista Journal of Clinical Investigation, e relataram também que conseguiram evitar as polêmicas éticas e políticas em torno das pesquisas com células-tronco embrionárias.
"Esta tecnologia contorna a necessidade de usar embriões humanos", disse Tamir Rashid, do laboratório de medicina regenerativa de Cambridge, coordenador do estudo. "As células que criamos eram tão boas quanto se estivéssemos usando células-tronco embrionárias."
As células-tronco são uma espécie de "manual de instruções" do organismo, capazes de dar origem a qualquer tipo de tecido, o que pode no futuro levar à cura de diversas lesões e doenças degenerativas.
As células-tronco retiradas de embriões são consideradas mais maleáveis e poderosas, mas muitos se opõem às pesquisas com esse material por causa da necessidade de destruir os embriões.
Nesta semana, um juiz federal dos EUA concedeu liminar proibindo o uso de verbas públicas em pesquisas com células-tronco embrionárias.
As doenças hepáticas são a quinta principal causa de mortes nas nações desenvolvidas. Só nos EUA, são cerca de 25 mil óbitos anuais, e na Grã-Bretanha pesquisadores afirmam que a incidência entre jovens e pessoas de meia idade aumenta 8 a 10 por cento ao ano.
Rashid disse que, apesar de 40 anos de tentativas, os cientistas nunca haviam conseguido desenvolver células hepáticas em laboratório, o que tornava extremamente difícil as pesquisas sobre as doenças do fígado.
Devido à escassez de doadores de fígado, é urgente encontrar alternativas aos transplantes, disse Rashid.
O novo estudo aponta a possibilidade do desenvolvimento de novas drogas, ou de uma terapia à base de células - em que as células dos pacientes com doenças genéticas são "curadas" e transplantadas de volta para o organismo.
As doenças hepáticas podem ser herdadas, ou causadas por abuso do álcool ou infecções como a hepatite.
Para o estudo, a equipe de Rashid pegou amostras da pele de sete pacientes que sofriam de várias doenças hepáticas genéticas, e três de pessoas saudáveis, que serviram como comparação.
Eles reprogramaram as células cutâneas para se transformarem nas chamadas células-tronco pluripotentes induzidas, e então as reprogramaram para gerar células hepáticas que imitavam diversas doenças do fígado dos pacientes. Os cientistas usaram a mesma técnica para criar células hepáticas saudáveis a partir do grupo de comparação.

Menino recebe traqueia feita com células-tronco

Um garoto britânico de dez anos de idade tornou-se a primeira criança a receber um transplante de traqueia feita com células tronco, disse nesta sexta-feira o hospital Great Ormond Street Hospital for Children, em Londres, que realizou a cirurgia esta semana. Os médicos dizem que o garoto respira normalmente.


Os médicos britânicos e italianos responsáveis pelo transplante inédito esperam que o procedimento reduza em muito o risco de rejeição já que o sistema imunológico do garoto não deve repelir a nova traqueia.
Esta foi a primeira vez que uma traqueia inteira foi transplantada.

Condição rara
Do órgão doado, foram retiradas células do doador, deixando apenas a armação de colágeno. Foram então injetadas células-tronco do garoto na armação.
Os médicos esperam que no próximo mês as células-tronco se transformem em células especializadas que formem o interior e o exterior da traqueia.
O garoto apresenta estenose traqueal congenital, uma malformação rara caracterizada pelo baixo calibre da via aérea. Quando nasceu, sua traqueia media apenas 1 milímetro de largura.
"É como respirar através de um canudo", afirmou o comunicado do hospital.
O pesquisador italiano de células-troco, Paolo Macchiarini, do hospital Universitário de Florença fez parte da equipe médica.

EUA começam tratamento com células-tronco

 


Começa tratamento com células-tronco


O primeiro ser humano a ser tratado com células-tronco embrionárias é um paciente de Atlanta, na Geórgia (sul dos EUA), que se tornou paraplégico depois de uma lesão na medula espinhal. Trata-se da primeira entre cerca de dez pessoas com paralisia que receberão o tratamento experimental, oferecido pela empresa americana Geron, nos próximos meses. A identidade do doente não foi revelada por enquanto.

Resultados de células embrionárias sairão em meses

 


Resultados de células embrionárias sairão em meses

Os primeiros resultados do inédito teste de células-tronco embrionárias em seres humanos devem estar disponíveis dentro de alguns meses, segundo afirmou ontem o coordenador da experiência, que pode revolucionar os tratamentos médicos. Richard Fessler não deu muitos detalhes sobre a divulgação dos resultados, mas confirmou que o primeiro paciente já recebeu a injeção de células-tronco embrionárias.
Demoraremos pelo menos oito meses para completar esta primeira etapa. É assim que avaliamos se o método é seguro
O material, convertido em laboratório em precursoras de células nervosas, atuará na medula espinhal do voluntário, que sofreu um trauma na coluna há menos de duas semanas. O transplante, anunciado na segunda-feira, marcou a largada dos primeiros testes clínicos com as células embrionárias. A fase inicial da pesquisa deve durar oito meses - cada qual dedicado a um participante do estudo.
Os testes clínicos são conduzidos no Shepherd Center, em Atlanta, nos EUA, com gerenciamento da Geron Corp. Richard Fessler ressaltou ontem que a seleção dos pacientes será rigorosa, e que os candidatos que preencherem todos os requisitos só terão 11 dias para decidir se querem ou não submeter-se à terapia experimental.


Pacientes terão advogados para evitar pressões
Sete centros de pesquisa do país estão aptos para cadastrar interessados em participar do experimento. Os médicos podem recomendar pacientes que tiveram a coluna esmagada, mas não partida, em um intervalo inferior a duas semanas. Os candidatos também não podem ter infecções ou histórico de câncer.
A etapa seguinte avaliará se as hastes metálicas ou parafusos usados na estabilização da coluna do paciente obstruem a visão da medula em um aparelho de ressonância magnética.
Se estas condições forem preenchidas, o paciente pode receber as células embrionárias. Desde, é claro, que ele não tenha qualquer resistência pessoal ao tratamento. Os candidatos têm 11 dias para resolver eventuais conflitos éticos ou religiosos. O prazo, segundo Fessler, não é arbitrário.
- Temos de fazer os testes até duas semanas após o ferimento. São três dias de exames pré-operatórios. Portanto, a decisão precisa sair até 11 dias depois da lesão - calcula.
Logo depois da injeção, que conta com cerca de 2 milhões de células, os pesquisadores buscarão sinais de toxicidade no paciente.
- Vamos esperar 30 dias para ter certeza de que não houve reações adversas - explica. - Só depois é que partimos para o paciente seguinte. Portanto, demoraremos pelo menos oito meses para completar esta primeira etapa. É assim que avaliamos se o método é seguro. Depois, tentaremos saber se ele surtiu algum efeito.
Os médicos acompanharão os transplantados enquanto eles estão sob efeito de medicamentos para suprimir seu sistema imunológico (evitando que o organismo rejeite a injeção). Esta etapa se estende por 45 dias após a cirurgia.
Os pacientes serão monitorados por 14 anos, período em que os médicos vão procurar por avanços motivados pela injeção das células-tronco.
- Considerando o estágio inicial dos transplantados, não espero qualquer progresso motor ou sensorial em meses - avisa Fessler.


Terapia no Brasil pode pular etapas fracassadas
O estabelecimento de um mês de espera entre cada transplante agrada Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano e do Instituto Nacional de Células-Tronco em Doenças Genéticas, da USP.
- Se houver qualquer reação adversa, ela acometerá apenas uma pessoa, e não os oito pacientes simultaneamente - lembra. - Os reparos serão feitos no decorrer desta primeira fase.
Embora o objetivo inicial seja testar a segurança da injeção de células-tronco, Mayana gostaria que mais dados sobre a terapia fossem divulgados para a comunidade científica. A Geron Corp, no entanto, deve manter o resultado dos testes clínicos em sigilo. A identidade do primeiro transplantado tampouco foi revelada.
- Seria interessante ter acesso a mais informações. Ainda assim, valeu a pena lutar pelas células-tronco - comemora. - E os pacientes brasileiros não devem achar que estão perdendo alguma coisa. Quando chegar a vez de trazer o método para cá, vamos poder pular as etapas que não surtiram o efeito desejado nos EUA.
(*) Com agências internacionais
Fonte: O Globo